Ébola: “O mais importante é evitar o pânico”

«Infeção pelo vírus Ébola: atualização» foi o tema da ação de formação que atraiu à Cooprofar uma vasta plateia de profissionais de saúde que integram as equipas das farmácias. Conduzida pelo Diretor do Serviço de Infecciologia do Hospital de S. João, no Porto, António Sarmento, a sessão ficou marcada pelas imensas perguntas que foram colocadas ao clínico e também intensivista (especialista em Cuidados Intensivos).

 

Traçando a panorâmica actual da epidemia, António Sarmento disse não acreditar que o surto se transforme numa pandemia tendo em conta a baixa velocidade de propagação do vírus. O médico acredita que poderão surgir vários casos suspeitos no Hospital de S. João - um dos três hospitais do país que está preparado para responder a situações de doença por vírus Ébola (a par do Hospital de Curry Cabral e Hospital de D. Estefânia) - mas que, muito provavelmente, se traduzirão em casos negativos, defendendo que é preciso desdramatizar para se controlar qualquer situação, apontando como exemplo o caso da Nigéria que conseguiu controlar os casos e sair da lista negra de países infetados.

 

Numa abordagem à sintomatologia da doença, António Sarmento, sublinhou que um doente infetado não transmite a doença até apresentar sintomas que são febre, náuseas, vómitos e diarreia, dores abdominais, dores musculares, dores de cabeça, dores de garganta, fraqueza e hemorragia inexplicada, que aparecem subitamente entre dois e 21 dias após a exposição ao vírus. A pessoa com estes sintomas é um elevado foco de contágio, sublinhou o especialista, clarificando, porém, que a transmissão só é feita por contacto direto com fluídos ou secreções corporais (como sangue, vómitos, fezes, saliva ou sémen) de pessoas infetadas, mortas ou vivas.

 

O infecciologista destacou a importância do profissional farmacêutico enquanto agente de saúde na linha da frente do contacto com o utente, como potencial fonte informativa e interventiva quer no processo de esclarecimento, quer no rastreio sobre a doença e confrontado por um cenário em que alguém se dirige à farmácia reportando os sintomas do ébola, António Sarmento foi peremptório ao afirmar que está de acordo com todas as medidas e orientações definidas pela DGS. Deste modo, perante um caso suspeito, sugeriu que o indicado será fornecer de imediato ao doente uma máscara e isolá-lo numa área ou sala que disponham e de seguida ligar para a Linha de Saúde 24 ou o INEM que são as únicas entidades competentes para transportar, com segurança, o doente até ao Hospital de S. João onde então entraria por uma porta com ligação direta ao Serviço de Infecciologia e não pelas urgências, revelou.

 

Relativamente à inexistência de cura para a doença, o médico infecciologista mostrou-se otimista perante as duas vacinas atualmente em fase de testes, apontando como mais valia a tecnologia de base semelhante à de outras vacinas semelhantes já comercializadas no mercado e vaticinou que, para março ou abril de 2015, a vacina já poderá estar disponível.

 

António Sarmento – que foi recetor da empatia de uma audiência curiosa e motivada para ser um agente de saúde ativo e esclarecido no que concerne à informação, orientação e controlo do vírus Ébola – deixou uma mensagem aos profissionais de saúde: “O mais importante é evitar o pânico.”

10-11-2014